Carta nº731

Andresa Costa
3 min readFeb 15, 2021

Leia ouvindo: Oi - Lagum

Querido vovô, hoje completam dois anos que enfiei minha vida em quatro malas e me mudei para o interior da Paraíba (não é João Pessoa).

Muita coisa mudou no meio do caminho desde então, alguns cortes de cabelo e a tinta rosa que acidentalmente caiu na minha cabeça de novo anos depois. Provavelmente você lembra quando dei mechas rosas no fundamental 2 e virei sensação da escola, amava aquele cabelo rosa só não me identificava mais com ele liso, parecia ser um versão de mim que não existia na realidade, apenas para agradar as outras pessoas.

Bom, felizmente sempre fui uma grande taurina e teimosa, entrei na transição capilar pela segunda vez tentando descobrir quem era aquela garota de cabelos cacheados dos álbuns de fotografia que estragava os filmes dos pais tirando foto até da geladeira. Felizmente, descobri e aprendi a não compartilhar minha companhia com pessoas confusas que acham que sou uma espécie de bússola para as suas projeções e problemas, pois é, vovô, continuo entrando em poucos relacionamentos, na verdade continuo não levando a vida tão a sério, só a minha carreira mesmo.

Espero que a pessoa que escolha dividir a vida um dia goste disso (pois é, parei de falar que isso é impossível, ainda acho pouco provável, mas aprendi a não duvidar do destino, pagar a língua é minha especialidade). E que compreenda a liberdade de ser quem você é longe de quem se ama/gosta, sempre será mais importante do que estar em um relacionamento por aparência, carência e toda e qualquer outra dependência emocional possível.

Esses dois anos foram difíceis sem você, odeio passar meus aniversários sem as tradicionais ligações e abraços nos almoços de domingo. Fiz boas amigas que me ensinaram a gostar de aniversários, me fizeram uma festa surpresa no primeiro ano que me mudei e foi incrível me sentir amada e necessária depois de alguns laços que tinham se rompido antes de chegar foi importante estar aqui com elas e foi no momento certo. Uma semana de festas de aniversário, brinquei até com o inferno astral e prometi não deixar mais a tristeza me abalar.

Mal sabia eu que isso não seria possível de controlar, então descobri a depressão, que agora faz parte de quem sou, mas não é tudo que sou. Não lembro muito da sua opinião sobre o assunto, acho que na verdade nunca conversamos sobre isso, mas sei que não existe ninguém no mundo que me compreendesse e me apoiasse mais do que você. Se esforçaria para entender ao seu modo, assim como me perguntou várias vezes o por que do jornalismo. Então, acho que descobri, mas vou contar um pouco dele no meu TCC ou no meu primeiro livro que vai para o mundo em algum momento desse ano.

A arte ainda é minha definição de lar, mas agora divide espaço com Campina Grande. Fiz as pazes com o meu melhor amigo Fernando Pessoa que me acolheu com sua obra poética a qual carrego para todo lugar.

Sim, os livros ainda são meu maior afeto, assim como dar aulas para crianças, se sinta orgulhoso Everaldo.

Escrevendo finalmente a minha própria narrativa.

Com amor, Andresa.

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Andresa Costa

comunicadora popular, fotojornalista e escrevo certezas com giz de cera. https://www.instagram.com/andcph/