De sol, de chuva e de pele carnaval

Ser pernambucana é uma delícia, mas é muito difícil passar um ano sem carnaval. Seria um grande eufemismo dizer que acho que aprendi a frevar antes de andar, talvez? Crescer na cidade do frevo e não ser tirada para dançar com ele, é impossível. Mas o bairrismo me acompanha até a ponta do pé, ao lado dos mindinhos dos pés machucados de um frevo que foi tocado no Maior São João do Mundo em que ousei dançar de bota e com salto.

Morar na Paraíba é um privilégio, amo a calmaria de poder caminhar pelo centro sem todo aquele barulho de Recife, mas um pedaço do meu coração sempre fica por lá quando volto ao meu lar agora em Campina Grande. Ainda bem que estou aqui, sobreviver ao carnaval é menos doloroso do lado de cá, porém a saudade de subir e descer as ladeiras de Olinda correndo, ser pisoteada e empurrada pelo povo é real. (sempre reclamei de tudo isso, mas é aquele ditado né)

Meu último carnaval foi uma aventura e tanto, mas perdi o pique de adolescente e como uma boa sedentária de vinte e poucos anos (amigos, estou mudando isso) nem aproveitei como devia. Infelizmente não foi Olinda de dia e Antigo de noite todos os dias como de costume, mas teve date certo que deu errado de amigo, beijos aleatórios nos quatro cantos e bloco do MST com os companheiros do Levante Paraíba e de Pernambuco.

Quase larguei tudo e voltei para ficar pra viver outro carnaval aleatório, pois é, talvez devesse ter feito isso mesmo pensando bem levei um bolo e um perdido, ganhei uma péssima companhia (diga-se de passagem, nem tudo que é ruim foi assim sempre, às vezes até começa bom).

Enfim, é quarta feira de cinzas e assim como ela estou um trapo, no meu terceiro turno de trabalho e pensando que pandemia trouxe a vida adulta mais aparente para todos nós. E me obrigou a tomar decisões, levou o carnaval e ninguém mais consegue nem se fazer presente, num futuro tão transparente onde nem mesmo o que é real consegue explicar o que a gente sente.