O primeiro dias mães sem você, Luzia.

Andresa Costa
2 min readMay 14, 2023
foto: acervo pessoal de 2019.

Encarar o documento em branco é tão difícil quanto encarrar o papel e o lápis, pois eu coloco ele entre os dedos e lembro de quando era criança, demorei um pouco para aprender a escrever. Lembro-me que assim que aprendi pensei: “preciso ensinar a minha vó”, tenho memórias muito vivas dos dias que você frequentava aulas na mesma escola que eu já estudei a noite. Aquele projeto de alfabetização de idosos te deu um brilho de felicidade tão bonito vozinha, você sempre me ensinou que estudar era um privilégio e fazia questão que estudasse, me levava para escola todos os dias e cobrava boas notas.

Ria bastante quando minhas professoras enfatizavam “ela é uma boa aluna, uma ótima menina, só não para quieta” “ela termina a própria tarefa e vai ensinar as colegas, impossível manter ela sentada por muito tempo” lembro muito que você falava que estudar era bom para ocupar a mente, da sua felicidade fazendo as atividades para a aula seguinte. Sabe vozinha, me peguei por muito tempo presa num paradoxo de que as minhas memórias da infância não eram tão boas assim, mas desbloqueando algumas memórias na terapia e olhando pro passado com mais afeto, menos mágoa e mais maturidade, você está em todas as minhas memórias favoritas.

Todos os dias das mães que a minha mãe teve que trabalhar, você estava lá e todas às vezes que arrumei confusão na escola (foi só uma ou duas vezes), nos conselhos de classe, feiras de conhecimento e é claro sempre ouvindo falar desenfreadamente sobre como a literatura é importante para mim. As tardes vendo Maria do Bairro e todas as novelas mexicanas possíveis, acordar de manhã comer seu pão assado leite e nescau, seu cafézinho no final da tarde e o melhor bolo de trigo do mundo (sempre era mais gostoso morno) com queijo coalho.

Faz um mês que você se foi, ocupei a mente o dia inteiro para tentar esquecer que sua ausência causou um caos dentro de mim e de toda nossa família, mas no escuro dos nossos quartos cheio de luto mora um alívio acometido de muitas saudades. Hoje não teve bolinho de abacaxi e nem café da manhã e almoço em família, ainda ta muito dolorido vozinha, a feriada da sua ausência nem sarou e para cicatrizar vai demorar um pouco. Queria que você pudesse me mostrar um caminho agora e como cantou gadú “um jeito de estar sem você.”

Sigo te cuidando de longe, espero que você tenha feito uma passagem tranquila e esteja vivendo em plenitude do outro lado querida. Quem sabe a gente não se encontra na próxima vida.

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