Para a garotinha que não estragou os filmes, só descobriu a fotografia.

Andresa Costa
4 min readOct 12, 2023

foto: acervo pessoal

leia ouvindo: nina fernandes — eu posso ser quem quiser

Querida Andresa, imagino que esteja empolgada com uma câmera na mão pela primeira vez, descobrindo que o flash estoura com facilidade e olhando as suas pequenas mãozinhas como se tivesse um grande tesouro. Não tenho muitas memórias desse dia, mas as poucas que tenho vem dessas fotografias que estão anexadas no texto e da sua vó tentando te fazer parar quieta para uma foto, mas você estava empolgada demais descobrindo uma câmera pela primeira vez.

Quem diria que sua forma de ver o mundo ia te levar tão longe, né?

Nessa época, a gente nem almejava ser fotógrafa, muito menos jornalista e nem sabia o que ia fazer amanhã. A sua única certeza era que gostava de estudar, amava as palavras (uma criança que lê o dicionário como hobby, hoje dou muita risada disso, ok?), vivia grudada nos livros (isso aqui nunca mudou) e adorava brincar de fotografar. Queria te dizer para não largar os diários, nem suas câmeras digitais (tenta não perder a mitsuca, essa é difícil de achar em brechó, viu?) e muito menos ter medo de escrever o que você pensa (sua versão mais velha agradece).

O jornalismo ainda não é uma questão na sua vida, mas será e finalmente tu vai entender porque gosta de falar e fingir que está apresentando programas de entretenimento no quarto dos brinquedos. Você criou um blog, um canal no youtube e conheceu seus melhores amigos na internet. O Fred, um dos seus melhores amigos é sua alma gêmea fora do corpo e vocês se conheceram no twitter. Vocês aprenderam juntos que o ensino médio não é tudo na vida, quando você finalmente aceitar isso e depois se afastar das pessoas certas, tudo vai fluir. O Fisher continua sendo seu melhor amigo/irmão, pega mais leve na implicância com ele e aprenda a ouvir os seus conselhos, vocês vão ganhar uma nova melhor amiga em comum, a Júlia e vão viver muitas histórias engraçadas.

A fotografia sempre foi uma amiga e ferramenta de autoconhecimento, assim como, as palavras que escreve nesse pequeno diário roxo. Guarda tudo que escreve nele, pois no futuro vão se tornar muitos diários e finalmente teremos boas amigas, elas vão saber respeitar o seu espaço de escrever e irão compartilhar as coisas delas contigo também.

Sei que agora tudo parece meio confuso, seu gosto por muitas coisas ao mesmo tempo (você vai largar o desenho, mas ainda vai amar moda!) e sua maneira de aprender vai te deixar meio assustada, mas confia mais em si mesma. E, sim, continua ensinando a tarefinha para os seus colegas na escola mesmo que a professora reclame, a culpa não é sua a falta didática dela, nem dela, é um sistema que não é feito para os neurodivergentes (provavelmente foi isso que te levou até este lugar que estamos hoje).

Tem muita coisa que você procura explicação e muitas delas não temos resposta até hoje, o luto é uma delas e com tempo você vai descobrir que nada tem uma resposta exata mesmo. A única certeza que a gente tem na vida é a morte, como a vó Luzia falava, nessa foto vocês estão juntas, mas o último abraço que demos nela com vida foi em fevereiro desse ano (2023). Quando você fez as malas de novo e voltou para sua casa (e pasme, não é mais na casa dos seus pais).

Andar perambulando no meio do mundo ainda é uma das suas coisas favoritas (não mais só nos livros), agora sendo adulta temos algumas novidades e muitas viagens (cruzamos o brasil mais vezes esse ano do que estivemos em casa). Adotamos uma gatinha preta, ela se chama Salem e tem o temperamento mais parecido com o seu do que imagina. Também temos um cachorro que ficou com a sua mãe em Recife, ele se chama Draco, pois é, mas harry potter deixou de ser uma parte relevante na sua vida, agradeça (você não tem mais tanta alergia a bichinhos, crescer tem seus privilégios). Também já tivemos alguns peixinhos e uma hamster chamada biju por causa do hamtaro.

Muitas informações, eu sei, mas tenho certeza que nossa versão criança ia adorar saber de tudo isso e não ia pensar em desistir de nada nunca, especialmente do blog, muitos conflitos você vai gerar através desse, mas vai aprender muitas coisas que sua versão mais velha te agradece muito agora terminando a graduação em jornalismo. Ainda não aprendemos a ser pacientes (não tanto quanto a gente gostaria), mas o tempo das coisas nunca vai ser o nosso mesmo, vai acostumando garota.

Com amor, a Andresa dos vinte e cinco.

--

--