Quanta saudade cabe num dia? | Uma carta para shay

Andresa Costa
3 min readMar 2, 2021

Gosto de dizer que a tristeza vira arte e a saudade se transforma na fusão da literatura, bons amigos, música e arte.

Leia ouvindo: À Primeira vista — Chico César

foto: Andresa Costa (acervo pessoal)

Querida shay, esperando que esteja olhando para todos nós e dando boas risadas com as peripécias que ainda me meto na minha vida amorosa desastrosa.

Bom, isso nem é tão relevante para mim mesmo, a coisa mais importante que me aconteceu nos últimos meses é que consegui terminar de escrever um livro, na verdade, vai além de um livro. É um projeto pessoal muito extenso que nunca pensei que fosse tomar forma que tomou. Só que as palavras saem de mim incontrolavelmente, seja na escrita e na fala, ainda não aprendi a ter filtro, mas trabalhando nisso um pouco todo dia.

E como de costume minha vida deu um belo trezentos e sessenta nos primeiros dois meses do ano e olha ainda nem sei como não cai de vez. Aparentemente todos continuam muito preocupados com os laços que construo para além da minha carreira, enquanto estou mais preocupada em me forjar como ser humano, me tornar alguém melhor do que fui comigo mesma e escrever abertamente sobre isso.

Acho que já fui boa o suficiente para o mundo e provei a mim mesma que alteridade não nasce da falta empatia consigo mesma.Afinal, se eu sou meu relacionamento mais duradouro e complicado, é porque dificultar minha comunicação comigo mesma e meus desafetos?

Ao me olhar no espelho está manhã quis cair no banheiro, sentar e chorar como um bebê que pede pela mãe (na verdade, queria muito um abraço do meu pai), mas umas das coisas mais complexas de ser assimilada na vida adulta é saber não se deixar abalar, saber a hora de cair e se abater pelos seus próprios sentimentos sem projetar eles no outro.

Então, hoje fui cordial e profissional, mas só obtive estresses. A TPM continua não me deixando em paz, mas as pessoas conseguem ser piores que todas as minhas combinações de ausência de hormônios nesse corpo humano defeituoso. Boazinha demais e sempre sendo tratada como otária, sei lá, às vezes acho que deve ter algum letreiro na minha testa “me faça de besta, eu deixo”.

Caminhando pelas reflexões da minha nada mole vida, mas que todo mundo gosta de dizer que tudo vem de graça e fácil demais, a grama do vizinho é sempre mais verde por aqui para os ouros, mal sabem que tudo aqui estragou e a grama nem mesmo para adubo prestou.

E seguindo em meio a muita bagunça, a tristeza vira arte e a saudade se transforma no encaixe que só é possível de ser feito por aqui com literatura bons amigos, música e arte.

Com amor, saudades e lágrimas salgadinhas que escorrem pelos meus olhos enquanto te escrevo agora.

Andresa.

p.s. que boa escritora eu seria se não chorasse escrevendo? te amo amiga.

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Andresa Costa

comunicadora popular, fotojornalista e escrevo certezas com giz de cera. https://www.instagram.com/andcph/