foto: @amorimrafaela

São João, pequenas despedidas e muitas saudades | Cartas para vovô

Andresa Costa

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Leia ouvindo: Sabiá — Alceu Valença.

Querido vovô, acho que esse São joão ascendeu algumas fogueiras aqui dentro. Algumas que estavam adormecidas faz tempo, pequenos questionamentos sobre mim mesma que nesse final de curso tem me atormentando um bocado.

Provavelmente porque as saídas do jornalismo convencional nunca mexeram tanto comigo como a maioria dos meus colegas, eu nasci de fato para ser pesquisadora, professora universitária e comunicadora popular.
Apesar de ensinar ser o que eu amo fazer, ainda preciso passar pelo mercado não tradicional e comer muito feijão com arroz para dar aulas de jornalismo um dia.

Esse processo de finalização do curso tem me deixado meio chorona (não que eu já não fosse), mas fechar este ciclo implica em muitas coisas e uma delas é entender como cresci nestes últimos anos, especialmente em como Recife deixou de ser minha casa e isso não tinha sido constatado em voz alta. No show de Alceu Valença no Parque do povo, me peguei chorando ouvindo sabiá tanto porque lembra você, tanto porque relembrou 2019 e o primeiro show dele aqui o sentimento de querer ir e, ao mesmo tempo, de querer continuar nessa cidade e não transferir o curso para a UFPE (que ainda bem que não fiz, tenho os melhores amigos, lembranças e histórias desses últimos quatro anos que jamais pensei), estou e sempre estive onde devia estar, me dar conta disto agora faz esta jornada valer ainda mais a pena.

Dediquei meu TCC a você e vó Luzia (foi adiado, mas está ficando muito bonito), inevitável pensar que você largaria tudo e viria assistir à apresentação não importa onde estivesse, o luto ainda me pega ocasionalmente, mas escrever deixa tudo mais real, menos dolorido, mais tangível.

Sabe, acho que no fim das contas este é o meu segredo de lidar com o luto e de continuar sobrevivendo a ele, atravessá-lo com palavras.

Com amor, Andresa.

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